29 de julho de 2006

Reina nos meus dias...

Reina nos meus dias a densidade surda dos espelhos
na qual em cada dia se reflecte o outro.
Nela me acho
e perco
e em mil reflexos sou
e torno a ser.

E ponho-me à janela a ver passar o tempo
viscoso como as horas
pegajoso e lento
e tento
comandar exércitos
construir muralhas
determinar os deuses e as leis
que calem o silêncio dos meus pensamentos.

Mas nada vence o ser-se

além talvez do sonho.
E eu sonho
que um dia o verbo ser embata contra um espelho
e se reparta, dividindo em mil pedaços
mil possibilidades
mil hipóteses de existência
o ser-se o que se é que reina nos meus dias.

4 comentários:

Unknown disse...

Este podia eu tê-lo escrito, se tivesse o teu talento!

Um beijo.

Anónimo disse...

É mto bom ler os teus poemas conhecendo-te...
Pq te revemos neles...
E pq nos revemos em ti. =)

Paulo disse...

Afinal os poemas são uma especie de desejo que baila no peito de cada homem...:o desejo de ser passáro, uma fantasia de Sol onde o sonho nunca deixou de brilhar.
Grave é quando as palavras são, também, a ilusão do silêncio...esse silêncio que se esconde no peito de cada homem e cujo "eco", por vezes, nos "abraça"...para além da razão..
Corações de "papel"...
Gostei
Abraço
paulo

Nelson Ngungu Rossano disse...

Gostei muito do seu blog, poesia que nos embala e que nos convida a viajar...

Kandandu,
Nelson Ngungu Rossano