Somos como as plantas que se dão:
um ramo arrancado à espera da terra
a criar raízes num copo de água.
Somos os que ficam, os que fazem figas,
os que conservam os sonhos e nunca desistem,
os que estoicamente aprenderam a esperar
e se limitam a fazê-lo.
Somos o movimento de um evoluir inerte.
Os que vão, sem fome,
a trincar o tempo como se comessem
desinteressadamente
uma maçã.
Espero-te com a força do hábito
num desespero imperturbável
meu como a morte e como a morte
insuportavelmente paciente.
Porque sou dos que esperam,
entre a maldição, o dom e o desperdício,
nesta tristeza entediante
de ir ancorando a vida
com os meus próprios pés.