11 de outubro de 2008

Prelúdio

Um dia destes digo-te
que há nas tuas mãos propriedades químicas
que me adubam a pele com poderosas especiarias
e eu feita pasto e prado e plantio
floresço irrigada de sémen e saliva
e algo em mim desabrocha.

E que ambiciono beijar-te em lugares desconhecidos
com nomes complicados
onde a tua pele é odorífera
e lamber-te os dedos até matar a fome
alheia às lições de anatomia
a encher de sede o teu umbigo.

E hei-de sussurrar-te confidências
falar em simbiose e metafísica
e talvez até contar-te
que às vezes
ao mordiscar-te o lóbulo da orelha
rezo-te ao coração para que me leve
por entre esses olhos de dilúvio
dentro de uma arca de Noé.