Somos como as plantas que se dão:
um ramo arrancado à espera da terra
a criar raízes num copo de água.
Somos os que ficam, os que fazem figas,
os que conservam os sonhos e nunca desistem,
os que estoicamente aprenderam a esperar
e se limitam a fazê-lo.
Somos o movimento de um evoluir inerte.
Os que vão, sem fome,
a trincar o tempo como se comessem
desinteressadamente
uma maçã.
Espero-te com a força do hábito
num desespero imperturbável
meu como a morte e como a morte
insuportavelmente paciente.
Porque sou dos que esperam,
entre a maldição, o dom e o desperdício,
nesta tristeza entediante
de ir ancorando a vida
com os meus próprios pés.
7 comentários:
É raro haver um poema que me diga tanto sobre mim mesmo como este diz, apesar de não ser sobre mim. E ainda por cima, tão bem escrito.
"Somos como as plantas que se dão:
um ramo arrancado à espera da terra
a criar raízes num copo de água."
Fantástico!
E também, não me canso de o dizer, é raro encontrar um poeta ou poetisa com tanta qualidade, e cujos poemas me digam tanto como os teus.
Desejo-te um óptimo 2006!
Gatinho desaparecido, por onde anda vocemessê que não aparece em lado nenhum? :)
O poema não é bem sobre ti mas é sobre nós e no fundo somos todos parecidos (o mal talvez seja esse)...
E obrigada por me vires sempre ler e por o fazeres com tanto cuidado e coração. És o meu leitor preferido. ;)
Primeiros beijinhos de 2006!
Tens um talento extraordinário :)
Parabéns :)
***,
Noggy
:S
Não será este o melhor lugar pra responder, mas sente-te à vontade para apagares este comentário. O que se passa é que andei ocupado com a vidinha académica, sem tempro pra coisa nenhuma. Pelo menos para nada realmente importante. Mas, apesar de não escrever, tenho (aqui) lido.
Agora vou ver se volto a escrever uns disparates no meu blog, a ver se continuo a ter, imerecidamente, mais visitas do que tu!
Um beijo, Sherazade!
Está óptimo.
Gostei especialmente a terceira estrofe:
"Somos o movimento de um evoluir inerte.
Os que vão, sem fome,
a trincar o tempo como se comessem
desinteressadamente
uma maçã."
Disse-me algo...
*** *** *** *
"Porque sou dos que esperam,
entre a maldição, o dom e o desperdício,
nesta tristeza entediante
de ir ancorando a vida
com os meus próprios pés."
Sou eu neste momento...
Só gostava de saber quem sou eu neste momento...
Gosto de acreditar que o meu tempo tem um destino, para além das inúmeras "trincadelas" que todos lhe damos... No entanto, não posso deixar de admitir os meus momentos de inércia divina...
Parabéns.
Enviar um comentário